terça-feira, 13 de dezembro de 2011

11 DE SETEMBRO: QUE O TEMPO NÃO RELEGUE AO ESQUECIMENTO


David Moreno Montenegro.
(Cientista Social, Mestre em Sociologia. Professor do IFCE).




O terror que sofreram não foi causado por fundamentalistas, tampouco por alguma seita militar-religiosa cuja intolerância é apontada como ideologia. Os ataques foram perpetrados por caças de guerra que rasgavam os céus e despejavam bombas sobre o Palácio de La Moneda, sede do governo democraticamente eleito, além de milhares carabineros que marchavam imponentes pelas ruas e reprimiam com violência qualquer manifestação popular.
 
A exemplo de tantas nações latino-americanas vilipendiadas e atacadas em sua soberania, era chegada a vez do Chile deflagrar seus dias negros de terror em que as mortes, torturas e perseguições passariam a atormentar cotidianamente os homens e mulheres daqueles tempos, instantes que não escaparam às letras do poeta Gabriel García Márquez quando, revelando um pouco mais das dores da alma chilena, disse que “el drama ocurrió en Chile, para mal de los chilenos, pero há de pasar a la historia como algo que nos sucedió sin remédio a todos los hombres de este tiempo y que se quedó en nuestras vidas para siempre” (Gabriel García Márquez, La Aventura de Miguel Littín Clandestino em Chile, 1986). 
 
Aquele governo, radicalmente democrático e de viés socialista, não poderia ser tolerado pela Casa Branca sob o governo Nixon que juntamente com a CIA, sob a batuta de Henry Kissinger, então maestro do Conselho de Segurança Nacional, implementou medidas que fizeram ruir o Chile de Allende. Muitas foram as ações que envolviam desde a retirada maciça de investimentos norte-americanos na economia chilena, muito dependente daquela em meados da década de 1970, até o financiamento de partidos ultraconservadores (Partido Demócrata Cristiano e Partido Nacional), passando ainda por campanhas de difamação do governo junto às forças armadas e cooptação de militares de alta patente pela causa golpista, entre eles Augusto Pinochet, que ao tomar o poder levou a cabo uma das mais sanguinárias ditaduras no continente.

O ataque ao povo chileno inaugurou um tempo de horrores, de medo e incertezas em relação ao futuro. O tão profundo sentimento de liberdade alimentado pelo espírito humano, porém inexplicável, nos dizeres da poetisa, foi ultrajado pelos atos de violência que feriram de morte o sonho de um povo em reinventar padrões civilizatórios em que a solidariedade, o agir coletivo e democrático deveriam formar as bases de novas sociabilidades capazes de apontar para um viver emancipado do homem.

Salvador Allende, negando a submissão ao inimigo indigno, pôs fim, de forma lacônica e, ao mesmo tempo, heróica, à sua existência, mas não sem resistir, não sem lutar até o fim para deixar gravadas em fogo suas últimas palavras dirigidas a toda a nação, e que assim versavam: “Viva el Chile! Viva el pueblo! Vivan los trabajadores! Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza que mi sacrifício no será en vano, tengo la certeza de que, por lo menos, será una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición” (Presidente Allende, 11 de setembro de 1973, 09:10 am, Palácio de La Moneda). Aquele dia, 11 de setembro de 1973, jamais será esquecido, mesmo que como farsa, tragicamente, a história se reescreva.

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