Epitácio Macário
As greves ocorridas nas universidades estaduais cearenses, entre 2005 e 2008, provocaram o debate sobre a situação dessas Instituições Estaduais de Ensino Superior (Iees). Nas reuniões com o governo Lúcio Alcântara e Cid Gomes, sempre éramos lembrados de que a responsabilidade pelo ensino superior é do governo federal. Isso deixava a sensação de que as Iees vivem a desventura do filho bastardo que, não sendo reconhecido efetivamente, não pode, entretanto, ser eliminado.
A postura histórica dos governantes tinha resultado no rebaixamento salarial dos servidores a patamares iníquos, na diminuição de verbas de custeio e investimento e num tratamento abusado para com as Iees. Foi quando um clamor de cidadania ecoou nas greves, angariando o apoio da sociedade cearense. O resultado do movimento se fez sentir na elevação salarial dos docentes para o nível das federais e na tímida retomada de investimentos pontuais.
Exceções à parte, é preciso denunciar a regra: perduram as más condições físicas; a carência de professor é da ordem de 500 vagas nas três universidades; o financiamento é insuficiente em face das demandas; parte dos docentes recebe menos da metade dos salários de seus pares; não há uma política de Estado para assistência estudantil e jamais houve concurso para servidores administrativos da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Tomada em perspectiva, a situação das estaduais aponta para um futuro nebuloso, senão dramático, algo que pode ser mudado com ações estruturais. In limine, governo poderia responder às questões: que lugar as Iees ocupam nos seus planos? Pretende-se torná-las supérfluas em face dos institutos tecnológicos? Serão elas entregues ao avô paterno, o Governo Federal?
O esclarecimento destas e de outras perguntas é pressuposto para enfrentar o imperativo categórico com que nos defrontamos: “decifra-me ou te devoro”!
Epitácio Macário (e_macarius@yahoo.com.br)
Presidente do Sinduece e prof. de Economia Política da Uece
*Artigo publicado no Jornal O Povo (20.01.11)
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